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domingo, 5 de março de 2017

Ferrugem asiática e americana na soja


Ferrugem(Phakopsora pachyrhizi). A ferrugem da soja é causada por duas espécies de fungo do gênero Phakopsora: a P. meibomiae (Arth.) Arth., causadora da ferrugem "americana", que ocorre naturalmente em diversas leguminosas desde Porto Rico, no Caribe, ao sul do Estado do Paraná (Ponta Grossa) e a P. pachyrhizi Sydow & P. Sydow, causadora da ferrugem "asiática", presente na maioria dos países que cultivam a soja e, a partir da safra 2000/01, também no Brasil e no Paraguai.
A distinção das duas espécies é feita através da morfologia de teliósporos e da análise do DNA.

Ferrugem "americana" - A ferrugem "americana" foi identificada no Brasil, em Lavras (MG), em 1979. Sua ocorrência é mais comum no final da safra, em soja "safrinha" (outono/inverno) e em soja guaxa, estando restrita às áreas de clima mais ameno. O fungo P. meibomiae raramente causa danos econômicos. Além da soja, o fungo infecta diversas leguminosas, sendo mais freqüentemente observada na soja perene, Neonotonia wightii (sinon. Glycine javanica).

Ferrugem "asiática" - A ferrugem asiática foi constatada pela primeira vez no Continente Americano no Paraguai, em 5 de março e no Estado do Paraná, em 26 de maio de 2001. Na safra 2001/02 apresentou grande expansão atingindo os estados do RS, de SC, do PR, de SP, de MG, do MS, do MT e de GO. A doença é favorecida por chuvas bem distribuídas e longos períodos de molhamento. A temperatura ótima para o seu desenvolvimento varia entre 18o-28oC. Em condições ótimas, as perdas na produtividade podem variar de 10% a 80%. Estima-se que mais de 60% da área de soja do Brasil foi atingida pela ferrugem na safra 2001/02, resultando em perdas de 112.000 t ou US$24,70 milhões.

Sintomas - O sintoma da ferrugem "americana" difere do da ferrugem "asiática" apenas pela predominância da coloração castanho-avermelhada ("reddish-brown - RB") das lesões.

Na ferrugem "asiática", as lesões das cultivares suscetíveis são predominantemente castanho-claras ("TAN") porém, quando em alta incidência pode causar crestamento foliar, assemelhando ao crestamento foliar de Cercospora; em cultivares resistentes ou tolerantes, as lesões são predominantemente castanho-avermelhadas (RB).

Os sintomas iniciais da ferrugem são caracterizados por minúsculos pontos (1-2mm de diâmetro) mais escuros do que o tecido sadio da folha, de uma coloração esverdeada a cinza-esverdeada.
Devido ao hábito biotrófico (nutre-se do tecido vivo das plantas) do fungo, em cultivares suscetíveis, as células infectadas morrem somente após ter ocorrido abundante esporulação. 

Devido a isso, as lesões não são facilmente visíveis no início da infecção.
Para melhor visualização das lesões nesse estádio, deve-se tomar uma folha suspeita e olhá-la através do limbo foliar pela face superior (adaxial), contra um fundo claro (o céu, por exemplo). Uma vez localizado o ponto suspeito (1-2mm de diâmetro), deve-se confirmar, observando o ponto escuro pela face superior (abaxial) da folha verificando, com uma lupa de 10x a 30x de aumento, ou sob um microscópio estereoscópico, a formação das urédias.

No local correspondente ao ponto escuro, observa-se, inicialmente, uma minúscula protuberância, semelhante a uma ferida (bolha) por escaldadura, sendo essa o início da formação da estrutura de frutificação do fungo. À medida que ocorre a morte dos tecidos infectados, as manchas aumentam de tamanho (1-4mm) e adquirem coloração castanho-avermelhada.

Para facilitar a visualização das urédias com a lupa ou microscópio, fazer com que a luz incida com a máxima inclinação sobre a face abaxial da folha, de modo a formar sombra de um dos lados das urédias. Esse procedimento permite a observação das urédias, a campo, mesmo sem o auxílio de uma lupa de bolso (a olho-nú).
Progressivamen te, as urédias, também chamadas de "pústulas", adquirem cor castanho-clara a castanho-escura, abrem-se em um minúsculo poro, expelindo os uredosporos. Os uredosporos, inicialmente de coloração hialina (cristalina), tornam-se bege e acumulam-se ao redor dos poros ou são carregados pelo vento.
O número de urédias (ou pústulas), por ponto, pode variar de um a seis. À medida que prossegue a esporulação, o tecido da folha ao redor das primeiras urédias adquire coloração castanho-clara (lesão do tipo "TAN") a castanho-avermelhada (lesão do tipo "reddish-brown"- RB), formando as lesões que são facilmente visíveis em ambas as faces da folha.
As urédias que deixaram de esporular apresentam as pústulas, com os poros abertos, o que permite distinguir da pústula bacteriana, freqüente causa de confusão.

A ferrugem pode também ser facilmente confundida com as lesões iniciais de mancha parda (Septoria glycines Hemmi) que forma um halo amarelo ao redor da lesão necrótica, que é angular e castanho-avermelhada. Em ambos os casos, as folhas infectadas amarelam, secam e caem prematuramente. A semelhança dos sintomas das doenças de final de ciclo (mancha parda e crestamento foliar de Cercospora) com o da ferrugem e o uso de fungicidas para controle de doenças de final de ciclo podem ter feito com que a ferrugem não fosse identificada em muitas lavouras e regiões onde ela não foi registrada na safra 2001/02. Outra doença com que a ferrugem poderá ser confundida é o crestamento bacteriano (Pseudomonas savastanoi pv. glycinea).

Uma forma de facilitar a visualização da presença do fungo nas lesões, vistas pela face inferior da folha (abaxial), consiste em coletar folhas suspeitas de terem a ferrugem, colocá-las rapidamente em saco plástico, antes que murchem, e mantê-las em incubação por um período de 12 a 24 horas sobre a mesa de trabalho. Caso a umidade do ambiente no momento da coleta seja muito baixa, borrifar um pouco de água sobre as folhas ou colocar papel umedecido para manter as folhas túrgidas. Não colocar folha com excesso de umidade no saco plástico. Após o período de incubação, observar a presença de urédias com o auxílio de uma lente ou da luz tangente sobre a superfície abaxial da folha.

Modo de disseminação - A disseminação da ferrugem é feita unicamente através da dispersão dos uredosporos pelo vento.

Efeitos da ferrugem - A infecção por P. pachyrhizi causa rápido amarelecimento ou bronzeamento e queda prematura das folhas, impedindo a plena formação dos grãos. Quanto mais cedo ocorrer a desfolha, menor será o tamanho dos grãos e, conseqüentemente, maior a perda do rendimento e da qualidade (grãos verdes). Em casos severos, quando a doença atinge a soja na fase de formação das vagens ou no início da granação, pode causar o aborto e a queda das vagens, resultando em até perda total do rendimento. Elevadas perdas de rendimento têm sido registradas na Austrália (80%), na Índia (90%) e em Taiwan (70%-80%). No Brasil, os danos mais severos foram observados em Goiás (Chapadão do Céu) e no Mato Grosso do Sul (Chapadão do Sul) onde houve redução de rendimentos, de uma safra para outra, de 55-60 sacos/ha (3.300-3.600 kg/ha) (2000/01) para 14-15 sacos/ha (840-900 kg/ha) (2001/02).

Manejo - O fato de ser uma doença de ocorrência recente e a limitada disponibilidade de informações sobre as influências que as condições climáticas das distintas regiões de cultivo da soja poderão exercer sobre a severidade da doença nas próximas safras, torna difícil fazer uma recomendação genérica de controle que satisfaça a todas as regiões. Todavia, nos estados e municípios onde a ferrugem foi constatada na safra 2001/02, as seguintes estratégias de controle ou manejos podem ser adotados:

1. aumentar a área de rotação com milho ou algodão (nos Cerrados), a fim de evitar perdas por ferrugem na soja;

2. semear cultivares mais precoces, concentrando os cultivos no início da época de semeadura indicada para cada região (não se deve semear grandes áreas em poucos dias, o que poderá ocasionar perdas ou danos por deterioração, devido ao atraso na colheita);

3. evitar a semeadura em várias épocas e com cultivares tardias, pois a soja semeada mais tardiamente (ou de ciclo longo) irá sofrer mais dano por receber a carga de esporos do fungo multiplicados nos primeiros cultivos;

4. cultivares resistentes - dentre 452 cultivares comerciais testadas para reação à ferrugem, em casa-de-vegetação (Londrina) e a campo (Ponta Grossa), as seguintes cultivares apresentaram reação uniforme, variando de resistente a moderadamente resistente: BRS 134, BRSMS Bacuri. Embora limitada, existe a possibilidade de controle da ferrugem através das cultivares tolerantes/resistentes, mencionadas acima.

Fonte: Embrapa